Foco na Mídia

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terça-feira, 30 de setembro de 2014

A relação entre pesquisas eleitorais e os resultados da Bolsa

Manchetes de hoje (30/09) dos principais jornais do país / Crédito: Paulo Cavalcanti

Segundo pesquisa do Datafolha, Dilma Rousseff abriu 13 pontos de Marina Silva no primeiro turno. Nesse cenário, as eleições não seriam definidas no próximo domingo. Porém, o PT ainda tem 4 pontos de vantagem no segundo turno. Portanto as pesquisas apontam Dilma na Presidência da República por mais quatro anos.

A provável vitória do PT nas eleições desse ano desanimou o mercado, segundo os jornais da Grande Mídia. Suas publicações dizem que a Bolsa de Valores teve a maior queda diária em três anos e que isso é reflexo das pesquisas eleitorais.

A relação entre as pesquisas e os resultados da Bolsa de Valores é contraditória no mundo político.

A intervenção do Estado na economia e a situação econômica do país no Governo Dilma desagradam o mercado, que mostra sua desconfiança quando as pesquisas apontam a continuidade do PT.

Por outro lado, existem outras visões do fato. Em entrevista para a agência Reuters, Guido Mantega, Ministro da Fazenda, atribuiu a queda na Bolsa à instabilidade no cenário econômico internacional. Admitiu a influencia das pesquisas nos resultados da Bolsa, mas considera que essa repercussão representa “uma parte pequena da flutuação”.

Com esse contraste de pontos de vista, em quem o cidadão deve acreditar para ter uma visão mais geral e imparcial da realidade?

Ora, tendo em vista que todos – imprensa, mercado, Governo e povo - têm interesses bem definidos nessas eleições, o ideal é acreditar em todos e em nenhum especificamente.

Assim sendo, é aconselhável lembrar que somente jornais conservadores – ou seja, neoliberais – relacionam a queda na Bolsa ao sucesso petista nas pesquisas eleitorais. Também é interessante recordar que esses jornais defendem o projeto de Governo que privilegia o mercado.

Um jornal progressista dificilmente faria essa relação, pois seus valores o motivam a defender os interesses do povo, que normalmente não correspondem diretamente com os interesses do mercado.

A esquerda simplesmente não publicaria algo que incentiva a adoção do modelo neoliberal no Brasil porque essas ideias contrariam os valores de diminuição da desigualdade social que ela defende.

E é por isso que o assunto fica extremamente contraditório. Cada visão oferece uma explicação diferente que convém ao projeto que defende.

As teorias de liberais e intervencionistas contrastam tanto quanto as de religiosos e evolucionistas. Uma praticamente exclui a outra. Porém, a realidade é tão complexa que todos os conhecimentos e pontos de vista são necessários para explicá-la.

Como cada grupo tira importância da visão que se opõe à sua versão, a realidade será uma mistura entre esses as distintas visões.

Obviamente o mercado não fica feliz com o intervencionismo de Dilma. Com a aplicação desse modelo econômico de esquerda, muitas empresas dependem de subsídios para continuar seu trabalho. Além disso, a competitividade do mercado diminui com empresas estatais, pois elas recebem mais privilégios dentro do país e, dessa forma, competem em condições especiais que outras empresas não são capazes de enfrentar sozinhas.

Entretanto, a queda na Bolsa causada pela desconfiança das empresas não deveria causar dúvidas nos cidadãos, pois os interesses de ambos não correspondem.

O livre-mercado comprovadamente não diminui a desigualdade social, circunstância que causa grande parte dos problemas do Brasil. Portanto, se uma pessoa não tem interesse pessoal no projeto neoliberal, nem precisa se preocupar com a queda que as pesquisas eleitorais causam na Bolsa de Valores. Afinal de contas, uma vez escolhida a Presidenta, o mercado encontrará suas fórmulas de continuar lucrando mesmo em condições difíceis.

Dessa forma, somente quem tem interesse nas condições criadas pelo livre-mercado deveria temer e evitar uma possível eleição de Dilma. A Grande Imprensa defende essa ideia e por isso insiste em relacionar as pesquisas eleitorais com os resultados da Bolsa de Valores.

Por outro lado, quando os jornais progressistas ignoram a relação entre pesquisas eleitorais e resultados da Bolsa, encontram posteriormente uma forma de avisar seus leitores de que a vida deles realmente não tem relação com o que as empresas defendem, pois a diminuição da desigualdade social não acontece através do livre-mercado, proposto - como não - pelo próprio mercado e, obviamente, pela Grande Imprensa, que sempre defendeu o neoliberalismo no Brasil.

Cada um defende o que acredita. Se Dilma é ruim para o mercado, seus sujeitos devem apoiar outro projeto. E se o mercado é ruim para as pessoas necessitadas, as mesmas devem entender isso para poder apoiar outro projeto. 

Assim funciona a política. Que ganhe o melhor em seus argumentos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Levy Fidélix deveria sair da Record algemado.

Levy Fidélix responde Luciana Genro com declarações homofóbicas


Durante o debate da Rede Record de ontem (28/09), transmitido em rede nacional de televisão, Levy Fidélix, candidato a Presidência da República, fez declarações que incitam o ódio e a violência contra coletivos homossexuais.


Com gestos hitlerianos, ele literalmente comparou pedófilos a homossexuais e convocou a sociedade brasileira a “enfrentar essa minoria”, o que já é motivo suficiente para colocá-lo na cadeia.

Os defensores da homofobia podem argumentar que o candidato propôs o enfrentamento metafórico, simbólico, no âmbito da política. Porém, o contexto das declarações deixa claro que o enfrentamento sugerido faz referência à limitação de direitos civis de uma parcela da sociedade.

Direitos que na teoria são iguais aos do próprio Levy.

Assim sendo, não existe liberdade garantida na Constituição que permita esse tipo de incitação.

Essa sugestão é crime e chegou a lares do Brasil inteiro. Discriminação em rede nacional de televisão. Algo muito sério, pois incentiva práticas criminosas em um país onde  um homossexual foi assassinado a cada 28 horas em 2013

Levy disse não se preocupar em perder votos por se posicionar contra os gays.

Entretanto, o descaso é tanto que o candidato deve perder inclusive sua liberdade, pois vidas humanas possivelmente correm perigo em ações motivadas pelas abomináveis declarações do presidenciável.

Uma pessoa tão preconceituosa quanto Levy Fidélix pode querer matar alguém depois de escutar as declarações.

É isso o que o candidato pretende ao propor o enfrentamento a coletivos homossexuais? Talvez sim ou talvez não. De qualquer forma, assassinatos podem acontecer quando o ódio é incentivado em meios de comunicação de massa.

E essa possibilidade explica a gravidade das declarações do candidato.

Uma vida humana vale mais que a liberdade de outro. As declarações incentivaram o ódio e devem ter consequências drásticas.

Semana passada o Ministério Público optou por denunciar Rachel Sheherazade por conta dos comentários sobre o caso do menino amarrado no poste.

Se o MP entendeu que aliberdade de expressão não ampara a apresentadora nesse caso, as declarações de Levy devem render medidas similares ou mais sérias ainda.

Rachel não convocou a sociedade a atacar bandidos. Ela argumentou a favor de “justiceiros” e deu a entender que a sociedade tem o direito de revidar violentamente. Dessa forma incitou a sociedade a agredir pessoas para “se proteger”; ou seja, incentivou a prática de crimes, pois, apesar de tudo, só a Justiça tem o legítimo direito de condenar alguém.

Levy, por outro lado, incentivou a sociedade a “enfrentar” (!) um coletivo social. Esse comentário pode ser interpretado de diversas formas, sendo que nenhuma delas é positiva para alguém.

Ele praticamente declarou guerra aos homossexuais. Como um candidato a presidência pode chegar a esse ponto?

E mais: por que a sociedade paga um candidato que incentiva o enfrentamento a um coletivo de seu país?

Segundo reportagem da CartaCapital, desde 1996, o PRTB de Levy Fidélix recebeu mais de 6 milhões de reais de dinheiro público pagos pelo fundo partidário.

É dinheiro do contribuinte que vai para as mãos de Levy Fidélix a cada eleição.

O pior é que esse pensamento é algo muito presente na mentalidade conservadora do Brasil.

Muitos defensores da “família” – entendida no sentido limitado - são egoístas o suficiente para querer limitar os direitos de outros cidadãos por puro preconceito, pois a Bíblia não é justificativa para ódios humanos.

O primeiro em apoiar as declarações homofóbicas foi, como não, Silas Malafaia. “Estão reclamando? Verdade absoluta”, declarou em uma rede social, fazendo referência aos comentários de Levy Fidélix.

E, curiosamente, as declarações de Levy Fidélix foram feitas na Rede Record, cujo dono é Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e reconhecidamente homofóbico.

Isso demonstra que esse preconceito é algo incrustado na mentalidade algumas pessoas. A sociedade brasileira está cheia de cidadãos que se sentiram representadas por Levy na noite de ontem.

E por isso mesmo a homofobia deve ser crime. Somente uma legislação dura pode reverter os estragos causados pela incitação ao ódio.

O lado positivo do ocorrido? O repúdio da sociedade.

Quem defende os valores democráticos e direitos iguais deve continuar fazendo escândalo sobre o caso.

A repercussão deve ser grande o suficiente para acabar com esse discurso que incentiva práticas criminosas.

Somente protestos e processos podem limitar esse pensamento horrendo que realmente acaba com direitos e vidas na sociedade brasileira.

Não é possível ser complacente ou compreensivo. As palavras de Levy Fidélix no debate de ontem não o foram e merecem o mesmo tratamento.

E quando ditas em rede nacional de televisão o crime ganha um sério agravante.

Somente punições severas podem produzir avanços na sociedade nesse campo.

Mas, enquanto nossos políticos não promoverem mudanças por temer a influência política de pessoas preconceituosas, a sociedade estará condenada a suportar o preconceito de gente que teoricamente defende o Cristo, mas é incapaz de amar o próximo.

sábado, 27 de setembro de 2014

O "apartidarismo" da Grande Imprensa engana a sociedade.

Notícia do O Globo destaca a simpatia entre os blogueiros entrevistados e o PT


Depois da entrevista de Dilma Rousseff a blogueiros progressistas na tarde de ontem (26/09), os jornais da Grande Imprensa mais uma vez destacaram (aqui, aqui e aqui) a relação política entre blogosfera e PT.

Não há nada de errado em falar sobre o partidarismo dos chamados “blogs sujos” – eles mesmos fazem questão de deixar sua postura política clara.

O problema surge quando os jornais que denunciam o partidarismo alheio se declaram apartidários, como se não tivessem preferência pelo projeto neoliberal – hoje representado pelo PSDB e por Marina Silva.

Isso ocorre porque, na mente dos jornalistas da Grande Imprensa, essa declaração significa perda de credibilidade e, consequentemente, de audiência; dois elementos fundamentais para a sobrevivência do jornalismo.

O esclarecimento do leitor, portanto, não é o principal objetivo do jornalismo da Grande Imprensa. Caso fosse, os jornais fariam um ato de transparência declarando seu próprio partidarismo.

Mas não. Preferem sacrificar um maior entendimento político da audiência para assegurar sua própria credibilidade.

E essa postura traz consequências negativas para a sociedade.

Nos comentários das notícias dos grandes jornais do país é possível encontrar muitas pessoas dizendo, por exemplo, que “a Folha de S. Paulo é petista”.

Percebem a que nível chegou a consequência da informação “imparcial” veiculada na Grande Imprensa?

Essa distorção na percepção da sociedade é consequência da falta de diversidade de ideologias nos grandes meios de comunicação do país.

A teoria do enquadramento explica esse fenômeno dizendo que os jornais mostram a realidade para sua audiência segundo um determinado ponto de vista.

Explica a formação da opinião pública colocando metaforicamente toda sociedade dentro de uma casa fechada. Lá dentro, as pessoas observam o mundo através de janelas com tamanho e direção limitada – o tamanho faz referência ao poder de influência do meio de comunicação e a direção é a ideologia do mesmo.

Se uma sociedade possuiu grande variedade de janelas, com diferentes tamanhos, direções e características, poderá ver mais partes do lado de fora.

Uma sociedade que vive um regime ditatorial teria uma única janela grande, por exemplo: o Governo totalitário só permite uma única visão do mundo, que é a sua.

No Brasil, as grandes janelas do país estão voltadas para uma única direção – são a visão conservadora da sociedade. As de outras ideologias, que mostram outras partes da realidade, são menores e tem menos expressão dentro da “casa”.

Tendo em vista o tamanho dos grandes meios de comunicação do país, a maioria das pessoas vai olhar a realidade através de janelas grandes. E essas pessoas verão a mesma parte do mundo. Se ignorarem ou não descobrirem as janelas menores que mostram outras partes da realidade, acreditarão somente no que as grandes janelas mostram. E isso deturpa seu entendimento dos fatos “lá de fora”.

Dessa forma terão uma opinião condicionada ao que veem nos grandes meios de comunicação.

Ou seja, quando existe oligopólio econômico e ideológico na imprensa, os grandes jornais condicionam a opinião da audiência, fazendo-a acreditar que o que veem nos grandes jornais é a realidade pura.

Dessa forma, os cidadãos só veem o que a imprensa vê – ou quer que eles vejam. Tudo que fica fora do campo de visão de um jornal também é deixado de lado pela audiência.

Não é muito poder para um único grupo fechado e selecionado de empresas?

A situação pira quando essa influência é usada para atingir objetivos particulares dos grupos de comunicação.

Um exemplo. Eles derrubaram a PEC 37 fazendo a audiência acreditar que ela favorece a impunidade em casos de corrupção. Independente de ser ou não uma medida positiva para o país, a Rede Globo conseguiu acabar com a proposta com um ou dois editoriais de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo.

Com métodos similares, também “criminalizam” o debate sobre a regularização da imprensa para que os cidadãos nem cogitem a ideia de limitar economicamente seus poderosos impérios midiáticos.

Ou seja, a Grande Imprensa usa sua influencia sobre os cidadãos para, justamente através deles, conseguir objetivos que, na verdade, não favorecem a sociedade.

É como se um patrão usasse o sindicato da categoria para conseguir diminuir os Direitos trabalhistas dos funcionários.

Por esse motivo, a concentração de poder na imprensa é completamente abominada na Europa, território onde existem Democracias mais estáveis que a brasileira.

Para estabilizar a situação do Brasil é preciso seguir o exemplo dessas Democracias e realizar uma reforma profunda que limite a quantidade de meios de comunicação dos conglomerados.


Enquanto esses grupos tiverem tanto poder de influência dentro da sociedade, o debate democrático do Brasil ficará limitado ao que eles defendem. E esses interesses no geral não correspondem com os da maioria pobre que formam a sociedade brasileira. Então é preciso mudar esse panorama.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Confronto de direitos fundamentais nos comentários de Sheherazade



O Ministério Público opinou pela denúncia contra o SBT pelos comentários de Rachel Sheherazade no caso do menino amarrado em um poste no Rio de Janeiro. 

A ação ainda não foi aceita por um juiz, mas as redes sociais já dão uma enorme repercussão à decisão do Ministério Público.

Trata-se de um tema polêmico que envolve Direitos Fundamentais de partes contrárias.

A liberdade de expressão da jornalista é o argumento a favor da apresentadora do SBT. A alegação contrária gira em torno dos limites dessa liberdade.

Esses limites começam quando a comunicação afeta os Direitos Fudamentais de terceiros – direito à vida, dignidade, privacidade, honra, etc.

Certo. Considerando que o MP entrou com ação contra as declarações de Rachel, é possível deduzir que o órgão não vê possibilidade de enquadrar o caso nos limites da liberdade de expressão.

A questão-chave, portanto, é determinar se as declarações de Rachel afetaram ou não os direitos de terceiros.

Para isso, é aconselhável lembrar que o jornalismo tem o papel de formar a opinião pública.

Não existem dúvidas de que as publicações da imprensa condicionam o imaginário e as 
opiniões da sociedade. Assim sendo, o jornalismo é uma profissão que envolve enorme responsabilidade.

Entendendo isso, é importante lembrar que as declarações da jornalista não motivaram as ações dos justiceiros diretamente, pois ela não convocou a sociedade a atacar bandidos com paus e pedras.

Mas quando chama o ato dos “justiceiros” de “legítima defesa coletiva”, a apresentadora transmite a ideia de “legitimidade”. Ou seja, ao usar essa expressão, a apresentadora diz que os cidadãos podem punir outra pessoa legitimamente.

Com isso, indiretamente trata de convencer sua audiência de que essa prática é “compreensível” e consequentemente aceitável. E nenhuma vingança é legítima ou aceitável em Estados de Direito.

O ataque prévio de um bandido pode ser um forte atenuante em muitos casos, mas somente em casos específicos será visto como algo que torna outro crime legítimo.

Portanto, essa expressão argumenta a favor da justiça com as próprias mãos.

E todo argumento trata de convencer os demais de que “aquilo” é positivo, correto ou, no mínimo aceitável do ponto de vista moral ou legal.

Dessa forma a jornalista incentiva uma prática violenta.

Esse comentário será escutado por espectadores que vão pensar por conta própria e formar sua própria opinião sobre o caso.

Alguns irão repudiar as declarações e terão a opinião de que todos – até os bandidos – merecem julgamentos realizados pela Justiça, que realmente é o único poder do Estado que realmente pode julgar e punir com verdadeira legitimidade concedida pelo poder da lei.

Outros irão escutar e concordar com as declarações da jornalista, acreditando que se trata de uma prática aceitável ou “legítima”.

Possivelmente haverá um momento em que estes cidadãos se encontrem diante de um suposto criminoso rendido. Nesse instante, irão soltar sua fúria – reflexo de uma sociedade violenta –, partindo para a agressão física, que também é crime no Código Penal.

Quando uma declaração produz efeitos que diminuem ou acabam com os Direitos 
Fundamentais de outras pessoas, ultrapassa os limites da liberdade de expressão.

No mesmo vídeo, Rachel reclama da ineficiência do Estado em conter a violência e da tentativa de desarmar o cidadão “de bem”. Esses comentários não afetam os direitos de ninguém e, por isso, entram no âmbito de proteção da liberdade de expressão.

Mas a jornalista ofereceu argumentos que pretendem transmitir a ideia de legitimidade para uma prática que também é crime.

É nesse sentido indireto que os comentários de Sheherazade são ilegais e perdem o amparo da liberdade de expressão.

E é por isso que o Ministério Público pede uma retratação pública do SBT, sob pena de 500 mil reais por dia.

Segundo notícia do UOL, a emissora deverá dizer que “as ações dos justiceiros são ilegítimas e que, quando praticadas contra adolescentes, constituem crime ainda mais grave do que furtos”.

Dessa forma a jornalista poderá retificar a expressão “legítima defesa coletiva”, que incentiva a violência ao oferecer um ponto de vista favorável a práticas completamente inaceitáveis num estado de Direito.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Padrão Globo de Entrevistas: objetivo.

As entrevistas da Rede Globo vêm sendo um espetáculo à parte nessas eleições.

Com tom agressivo e perguntas molestas aos candidatos, os jornalistas sempre buscam colocar o entrevistado em xeque.

Entrevista de Dilma Rouseff ao Jornal Nacional


Essa postura pode ser considerada jornalismo sério. Obviamente os candidatos não são bajulados. Mas existe um “porém” que questiona o comportamento dos entrevistadores globais.

Um político vai a entrevistas desse tipo para falar diretamente aos eleitores.

Um jornalista faz entrevistas para oferecer informação à sua audiência.

Mas, quando o jornalista pretende assumir o protagonismo da entrevista, interrompendo o entrevistado constantemente, os papéis se confundem.

A pergunta precisa do jornalista, que intimida o entrevistado e convence o espectador através da retórica, ganha mais destaque do que a resposta difusa do candidato. Ou seja, nessas entrevistas o jornalista tem um papel mais importante que o entrevistado. O primeiro ataca, o segundo explica como pode.

A única forma de quebrar essa confusão é ter respostas claras e evitar interrupções, como Dilma fez na última entrevista do “Bom Dia Brasil”, também da Rede Globo. Ela não aceitou ser cortada por comentários e se impôs diante da insistência dos entrevistadores.

Mas, inclusive nesse caso, os jornalistas conseguiram protagonismo ao falar sobre as “erratas” dos dados da Presidenta no final do quadro.

Ora, por que um jornal quer tanto protagonismo a ponto de deixar o entrevistado em segundo plano? 

Qual é a motivação para esses ataques diretos? Escutar a explicação do candidato? Ajudar o eleitor a formar sua opinião?

Talvez sim. Mas os candidatos pouco explicam e o eleitor praticamente não muda seu entendimento da Política, pois os assuntos tratados no geral não são muito exploráveis.

Então existe algo a mais...

Com a busca pelo protagonismo, os jornalistas aparentemente querem mostrar algo ao espectador, como se quisessem fazer ataques pessoais para conquistar votos.

Mas, votos para quem?

Ora, para si mesmo!

“Votos” de confiança: credibilidade para o veículo de comunicação. O espectador confia no que o jornal diz e, por isso, não questiona o que escuta.

Portanto, a busca central não é nem por audiência.

O que a Rede Globo busca é credibilidade.

E o contexto da Internet ajuda a entender essa decisão da emissora.

Hoje, mais do que nunca, a credibilidade das televisões é constantemente questionada na blogosfera e em meios de comunicação progressistas.

Cada vez mais blogs e jornais denunciam diariamente as coberturas parciais da Grande Imprensa.

Isso é péssimo para a credibilidade de qualquer meio de comunicação que se afirma apartidário – como é o caso dos jornais da Grande Mídia. Mas eles têm mecanismos para confirmar sua neutralidade.

Padrão Globo de Entrevistas é um deles.

Atacando todos os candidatos, os jornalistas mostram que estão do “lado do povo”, que não tem preferência política. E, com isso, ganha pontos com os espectadores menos esclarecidos.

Essas pessoas não conseguem detectar o partidarismo da Rede Globo em notícias normais. 

Quando veem a emissora atacando candidatos sem exceção, supõem que ela não apoia ninguém.

Portanto, essas entrevistas são mais uma forma de robustecer uma imparcialidade artificial. Falsa, porque não existe jornalismo completamente imparcial.

Se a Rede Globo realmente quisesse acrescentar ideias ao debate democrático, como afirma, iria diretamente ao ponto central do debate nesse ano, que é a disputa entre dois projetos de governo: o neoliberal de Marina e Aécio ou o desenvolvimentista da presidenta.

Explicaria de forma simples quais são as diferenças entre os dois e, dessa forma, prestaria um ótimo serviço aos espectadores.

Mas isso não interessa aos Senhores Marinho. Eles têm interesse na falta de conhecimento do povo.

Então preferem simplesmente atacar os candidatos, criando um circo que limita o debate de ideias na televisão.

Para as Organizações Globo, é o formato perfeito de entrevistar. Por isso virou o Padrão Globo de Entrevistas.

Mais uma forma de manter a confiança de uma audiência que cada vez mais duvida das Organizações Globo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Quem os jornais da Grande Imprensa apoiam?

Faltando quase dez dias para as eleições, o segundo turno terá, pela primeira vez, duas mulheres na disputa. Os jornais já se posicionaram nessa reta final e os apoios estão mais ou menos claros, de acordo com o meio de comunicação.

É muito importante avisar que essa análise é subjetiva, assim como todas as outras, e que nela estão expostas considerações gerais do autor que não necessariamente correspondem com a realidade diaria das redações brasileiras.

Entendido isso, é possível começar a analisar as relações políticas dos principais jornais do país.

A revista Veja e seu tradicional ódio pela esquerda aceitou em parte o projeto de Marina e passa a vê-la como uma esperança de tirar o PT do poder, apesar das dúvidas que tem em algumas questões do programa marinista. A ideia “bolivariana” – segundo a Veja – de aplicar os conselhos populares proposto por Dilma é uma das questões que cria perguntas na Editora Abril.

Porém, isso é uma questão que será resolvida mais adiante. O foco primário é derrubar o PT. A revista mantém o ataque em suas publicações – como vocês podem ver na análise da capa deste mês -, buscando minar a candidatura petista - sem muitas conquistas, claro, pois quem vota no PT nunca escutou a revista Veja.

Por outro lado, continua acreditando em Aécio, principalmente depois que o mesmo subiu 4 pontos na última pesquisa encomendada pela Rede Globo. Por isso continua dizendo em suas publicações que o candidato tucano é sério, ético e comprometido com a sociedade. Manterá essa postura até o final, quando o povo decida quem irá ao segundo turno.
Por outro lado, boatos afirmam que o conselho editorial da editora pediu para que colunistas como Reinaldo Azevedo parassem de publicar artigos desfavoráveis a Marina, afinal de contas, melhor uma ex-petista com toques neoliberais, e evangélicos que o PT em si.

Então a regra na Veja vem do famoso “quem não tem cão, caça com gato”. Se a revista não conseguir eleger Aécio presidente, pelo menos ajudará a tirar o PT do poder. Feito isso, seria o começo de outro país. No segundo turno a Veja apoia a candidatura de Marina.

O jornal conservador que olha Marina com mais desconfiança é o conservador O Estado de S. Paulo. No editorial publicado há quase um mês atrás, chamado “A candidata impõe medo”, o diário paulista prova que ele mesmo teme uma possível vitória da Marina. O texto diz que Marina não tem condições de criar uma equipe de governo para tocar o “dia a dia”. 

O acidente de Campos não mudou a posição do jornal. A regra é manter a linha de antes. Muitas manchetes negativas para a presidenta Dilma e poucas manchetes, mas no geral positivas, para Aécio Neves. O Estadão mostra, com isso, que é um dos poucos jornais que não mudaram no período eleitoral. Declarou que apoiava a campanha de José Serra em 2010 e, apesar de não ter declarado nada nessas eleições, não esconde sua preferência por Aécio Neves ao publicar principalmente ataques à Marina e ao PT. Mantém sua tradição tucana e sua postura crítica às medidas e às ideias petistas – e agora marinistas também.

Apesar da oposição que vem exercendo a Marina, provavelmente vai apoiar sua candidatura no segundo turno, quando o projeto de governo da candidata vai estar mais definido.

O carioca O Globo é uma mistura entre a opinião da Veja e a preferência política do Estadão. Ele mantém sua tradicional linha crítica ao PT – publicando diariamente notícias negativas relacionadas com a gestão petista nos diversos âmbitos – e deixa claro que ainda apoia Aécio, principalmente analisando as declarações de seus colunistas: Merval Pereira, por exemplo, declarou recentemente que ainda confia no Aécio.
Por outro lado, não vê Marina com maus olhos. Pelo contrário! O jornal em ocasiões a defende diante de ataques da campanha petista. 

Pelo visto, a ideia é tirar o PT do poder mesmo, qualquer um que apareça no lugar será melhor, principalmente porque Marina e Aécio têm propostas neoliberais na economia, o que agrada muito os tucanos das Organizações Globo.

O maior conglomerado de imprensa da América Latina se destacou realizando entrevistas com os presidenciáveis. Nelas, os âncoras dos telejornais globais adotaram posturas agressivas diante dos candidatos. Isso diz mais da busca por credibilidade da Globo que pretensão por um jornalismo sério.

Não é possível discordar que a Globo assumiu uma postura apartidária nessas entrevistas, pois todos os candidatos foram recebidos com perguntas cabeludas nos estúdios, mas não é difícil concluir que as entrevistas pouco acrescentaram ao debate de ideias. As entrevistas se basearam em tocar assuntos delicados para transmitir o falso apartidarismo da Globo nessa época em que a crítica e dinâmica Internet domina a informação mundial.

Por outro lado, observando o histórico e a atual cobertura política do jornal O Globo, é fácil concluir que o Governo de Dilma continua sendo visto de maneira hostil. O jornal publica diariamente notícias ruins em sua manchete principal, enquanto continua deixando de lado os assuntos negativos de outros candidatos – não explorou ao máximo o aeroporto de Aécio Neves, nem a participação do PSB no novo escândalo da Petrobrás, por exemplo.

Com certeza vai apoiar Marina no segundo turno.

Para terminar, aparece um jornal da Grande Imprensa que vem apoiando a candidatura de Marina. A cobertura política da Folha de S. Paulo vem “comprando algumas brigas” da Marina. Denuncia os ataques dos adversários e publica declarações da candidata. É difícil reconhecer uma postura clara no jornal, pois sua incessante busca por imparcialidade o levaram a implantar a ideia de ser parcial de forma alternada. Ou seja, publicando alternadamente informações positivas, negativas e neutras sobre todos os candidatos, a Folha busca atingir a imparcialidade.

Isso é perceptível quando consideramos a postura que o jornal vem tomando com os escândalos de corrupção. Denunciou o aeroporto de Aécio Neves e deu eco às denúncias da Petrobrás publicadas pela revista Veja. Com isso, o leitor fica confuso, pois não sabe se a Folha é petista, se tucana ou marinista – ao ler os comentários do jornal aparecem rapidamente aqueles que denunciam o “petismo” da Folha ou o “tucanismo”. O fato é que a parcialidade alternada não afeta Marina, cujas publicações são de teor positivo.

Por exemplo: a Folha vem tornando público o jogo político de desconstruir a imagem de um candidato – Marina, no caso. Avisando os leitores que o PT e o PSDB vão optar por esse caminho na campanha, a Folha “prepara” o eleitor para os ataques pessoais. Dessa forma ela tira credibilidade dessa investida, o que supõe ganho político para a candidata.

Por outro lado, para a Folha, Aécio Neves já é um assunto do passado. O jornal transmite isso quando trata sobre as últimas pesquisas eleitorais. Durante a semana passada publicou diversas notícias que demonstravam a preocupação dos tucanos com as pesquisas eleitorais. Perder o segundo turno parece um grande fiasco, uma tragédia que a Folha já considera provável.

Tendo isso em mente, o jornal aproveita a onda de Marina para ajuda-la a crescer. Seu apoio não mudará no segundo turno.

CONCLUSÃO: sem dúvida os quatro meios de comunicação analisados apoiarão Marina em um eventual segundo turno com Dilma. A aversão pelo intervencionismo petista evita que os jornais ofereçam apoio político ao PT. Tucanos e Marinistas se unirão no segundo turno para derrubar o PT e teremos uma das disputas mais acirradas dos últimos anos. Os atores já estão definidos e os candidatos também. Dia 5 de outubro é a vez do grande protagonista – o povo – decidir quem está mais forte na disputa pela Presidência do Brasil.

Análise da última capa da Veja

Capa da revista Veja lançada dia 20 de setembro


A revista Veja faz uma apresentação subjetiva dos candidatos nessa capa. Toda análise é subjetiva por natureza. Essa não é diferente. Mistura informação com opinião, algo típico na Veja: as cores, fotos, palavras e citações do candidato expressam opinião pura, uma interpretação da Veja, e a citação entre aspas é informação que se mistura com o resto, formando uma mescla informativa-opinativa que nosso subconsciente absorve.
É importante não confundir informação com opinião, pois isso costuma induzir leitores ao erro quando os mesmos não entendem que existe parcialidade em todo discurso e acreditam puramente na análise de um ser humano, que sempre está sujeita aos conhecimentos, opiniões e crenças do mesmo. Tendo isso em mente, vamos à análise (a minha também é subjetiva, claro).
Começando pela foto utilizada, a Veja usou um azul forte na apresentação de Aécio. Esse azul mostra serenidade, tranquilidade e harmonia (o que corresponde com a expressão do Aécio). Ele olha para cima (para o objetivo), com confiança e certeza: sua hora vai chegar. A palavra "racionalidade" completa esse sentido: ele sabe como chegar ao poder e a citação publicada mostra isso.
Marina aparece numa foto verde, que é a cor da esperança. Seus olhos brilham (ela tem fé) e dessa forma mostram que governará com o coração. A boca vai dizer alguma coisa que parece travada, como se ela quisesse fazer uma confissão. Em minha interpretação, isso quer dizer que ela ainda não deu totalmente as caras: ainda tem que mostrar qual linha vai seguir. A palavra emoção completa esse sentido. Não sabemos como seria um eventual governo de Marina, e isso causa incerteza (emoção). Ainda assim, ela oferece esperanças para um país perdido segundo a visão da Veja.
Por último, o vermelho Dilmista representa o amor, a paixão e a excitação. A foto (tirada de baixo para cima) da a entender que estamos abaixo dela na hierarquia (estamos submetidos a ela). Mostra uma expressão dura e o rosto escurecido com uma expressão de arrependimento. Podemos entender que ela fez algo errado no passado. Essa expressão arrependida, duvidosa, transmite insegurança do futuro. Ela sabe que não errou em certos assuntos importantes, mas não desiste: a paixão a obriga a fazer isso. A paixão pelo que? Poder, como diz a palavra destacada. A citação mostra que ela esqueceu os erros do passado e busca destacar o que fez de bom. Mesmo assim, sabe que ainda temos muitos problemas e busca tranquilizar o leitor com palavras, mas, como a foto transmite insegurança, entendemos que ela não poderá fazer muito.
Podemos concluir, portanto, que a revista aconselha o voto no "racional" Aécio Neves; apresenta Marina Silva como uma surpresa aceitável e mostra Dilma como vilã. Cada candidato tem suas "armas para a decisão", assim como indica o texto em destaque na página. Aécio tem a racionalidade, Marina o coração e Dilma a paixão (pelo poder). O que o leitor entende ao considerar tudo isso? Se ele tiver confiança na revista Veja, vai acreditar que Aécio é a melhor opção. Se não confiar, vai continuar desprezando as opiniões da revista, dirigindo seu voto a quem considera mais apropriado.

CONCLUSÃO DO AUTOR: não seria possível esperar outro tipo de análise numa capa da Veja. Sua preferência por Aécio é inquestionável, assim como a esperança que tem no projeto neoliberal de Marina. Por outro lado, a revista vê Dilma com desconfiança. Ela se lembra dos erros do passado e apresenta a opção da reeleição como a mais arriscada para o país, algo normal para uma revista que sempre fez oposição aos partidos progressistas. Todas pessoas desse mundo tem preferências, vontades e gostos. Os jornais também. É ingenuidade acreditar que eles são imparciais. Isso só facilita a manipulação que acontece sutilmente na cobertura diária dos meios de comunicação. É importante duvidar sempre e sempre questionar quem tem o papel de questionar: os próprios jornalistas.