Foco na Mídia

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terça-feira, 30 de setembro de 2014

A relação entre pesquisas eleitorais e os resultados da Bolsa

Manchetes de hoje (30/09) dos principais jornais do país / Crédito: Paulo Cavalcanti

Segundo pesquisa do Datafolha, Dilma Rousseff abriu 13 pontos de Marina Silva no primeiro turno. Nesse cenário, as eleições não seriam definidas no próximo domingo. Porém, o PT ainda tem 4 pontos de vantagem no segundo turno. Portanto as pesquisas apontam Dilma na Presidência da República por mais quatro anos.

A provável vitória do PT nas eleições desse ano desanimou o mercado, segundo os jornais da Grande Mídia. Suas publicações dizem que a Bolsa de Valores teve a maior queda diária em três anos e que isso é reflexo das pesquisas eleitorais.

A relação entre as pesquisas e os resultados da Bolsa de Valores é contraditória no mundo político.

A intervenção do Estado na economia e a situação econômica do país no Governo Dilma desagradam o mercado, que mostra sua desconfiança quando as pesquisas apontam a continuidade do PT.

Por outro lado, existem outras visões do fato. Em entrevista para a agência Reuters, Guido Mantega, Ministro da Fazenda, atribuiu a queda na Bolsa à instabilidade no cenário econômico internacional. Admitiu a influencia das pesquisas nos resultados da Bolsa, mas considera que essa repercussão representa “uma parte pequena da flutuação”.

Com esse contraste de pontos de vista, em quem o cidadão deve acreditar para ter uma visão mais geral e imparcial da realidade?

Ora, tendo em vista que todos – imprensa, mercado, Governo e povo - têm interesses bem definidos nessas eleições, o ideal é acreditar em todos e em nenhum especificamente.

Assim sendo, é aconselhável lembrar que somente jornais conservadores – ou seja, neoliberais – relacionam a queda na Bolsa ao sucesso petista nas pesquisas eleitorais. Também é interessante recordar que esses jornais defendem o projeto de Governo que privilegia o mercado.

Um jornal progressista dificilmente faria essa relação, pois seus valores o motivam a defender os interesses do povo, que normalmente não correspondem diretamente com os interesses do mercado.

A esquerda simplesmente não publicaria algo que incentiva a adoção do modelo neoliberal no Brasil porque essas ideias contrariam os valores de diminuição da desigualdade social que ela defende.

E é por isso que o assunto fica extremamente contraditório. Cada visão oferece uma explicação diferente que convém ao projeto que defende.

As teorias de liberais e intervencionistas contrastam tanto quanto as de religiosos e evolucionistas. Uma praticamente exclui a outra. Porém, a realidade é tão complexa que todos os conhecimentos e pontos de vista são necessários para explicá-la.

Como cada grupo tira importância da visão que se opõe à sua versão, a realidade será uma mistura entre esses as distintas visões.

Obviamente o mercado não fica feliz com o intervencionismo de Dilma. Com a aplicação desse modelo econômico de esquerda, muitas empresas dependem de subsídios para continuar seu trabalho. Além disso, a competitividade do mercado diminui com empresas estatais, pois elas recebem mais privilégios dentro do país e, dessa forma, competem em condições especiais que outras empresas não são capazes de enfrentar sozinhas.

Entretanto, a queda na Bolsa causada pela desconfiança das empresas não deveria causar dúvidas nos cidadãos, pois os interesses de ambos não correspondem.

O livre-mercado comprovadamente não diminui a desigualdade social, circunstância que causa grande parte dos problemas do Brasil. Portanto, se uma pessoa não tem interesse pessoal no projeto neoliberal, nem precisa se preocupar com a queda que as pesquisas eleitorais causam na Bolsa de Valores. Afinal de contas, uma vez escolhida a Presidenta, o mercado encontrará suas fórmulas de continuar lucrando mesmo em condições difíceis.

Dessa forma, somente quem tem interesse nas condições criadas pelo livre-mercado deveria temer e evitar uma possível eleição de Dilma. A Grande Imprensa defende essa ideia e por isso insiste em relacionar as pesquisas eleitorais com os resultados da Bolsa de Valores.

Por outro lado, quando os jornais progressistas ignoram a relação entre pesquisas eleitorais e resultados da Bolsa, encontram posteriormente uma forma de avisar seus leitores de que a vida deles realmente não tem relação com o que as empresas defendem, pois a diminuição da desigualdade social não acontece através do livre-mercado, proposto - como não - pelo próprio mercado e, obviamente, pela Grande Imprensa, que sempre defendeu o neoliberalismo no Brasil.

Cada um defende o que acredita. Se Dilma é ruim para o mercado, seus sujeitos devem apoiar outro projeto. E se o mercado é ruim para as pessoas necessitadas, as mesmas devem entender isso para poder apoiar outro projeto. 

Assim funciona a política. Que ganhe o melhor em seus argumentos.

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