Foco na Mídia

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Análise: Xico Sá pediu que jornais “saíssem do armário” e foi vetado.

Tweet de Xico Sá / Foto: Revista Fórum


Um dia depois dos ataques de Xico Sá à Folha de S. Paulo no Twitter, o jornalista e escritor publicou em seu Facebook uma “nota de esclarecimento” que explica sua saída da Folha.

Em sua coluna semanal no Caderno de Esportes da Folha, Xico publicaria um texto sobre o “Fla-Flu eleitoral” do segundo turno. Mas o texto foi vetado pela direção do jornal.

Na coluna, Xico declararia seu voto em Dilma Rousseff e pediria que os grandes jornais “saíssem do armário”, informando suas posições políticas “como as publicações americanas”. Também “tecia queixas à cobertura desequilibrada da Folha e da imprensa no geral”, como explica a nota.

Segundo Sérgio D’ávila, editor-executivo do jornal, Xico foi vetado de publicar a coluna por uma política da empresa que “aconselha” os colunistas a não fazer “proselitismo eleitoral em seus textos”.

O colunista recebeu a oferta de publicar sua declaração de voto em um espaço de opinião da página A3, mas, por achar que essa não era a “solução para o impasse”, recusou a oferta e pediu demissão do jornal.

Na nota, publicada em seu perfil do Facebook, Xico conta que “defendia na coluna que os jornais assumissem suas explícitas posições”.

E deixou claro que a Folha “é bem melhor em se comparando aos outros jornalões, vide a grande revelação do aeroporto privado de Aécio e o mínimo questionamento do choque de gestão nas Gerais”.

Análise

O desentendimento pode ser fruto exclusivo das políticas citadas por Sérgio D’ávila. Mas algumas características da Folha põem em cheque essa versão.

Em uma página do Grupo Folha, o jornal “estabelece como premissa de sua linha editorial a busca por um jornalismo crítico, apartidário e pluralista”.

Na prática, o jornal aplica essa teoria através da publicação de matérias negativas sobre todos os candidatos; além da pluralidade ideológica de suas colunas - como se as publicações periódicas e as matérias negativas sobre um candidato anulassem o real partidarismo que existe na cobertura geral do jornal conservador.

Independente de tudo, a busca pela objetividade da Folha é real, o jornal de fato busca a crítica e a pluralidade em seu jornalismo, como o próprio Xico Sá disse, mas seu comportamento geral é partidarista para o lado conservador.

Trata-se de uma característica ideológica e histórica do jornal: querer anular ou negar essa tendência natural é uma postura forçada que resulta em medidas pouco transparentes com o leitor.

Xico Sá sabe disso, por isso ia solicitar em sua coluna que os grandes jornais “saíssem do armário”.

Porém, a postura do colunista não agradou os peixes grandes da redação. E Xico se demitiu depois de não se entender com o jornal.

Ora, se o problema é o “proselitismo eleitoral” nas colunas, Reinaldo Azevedo, Gregório Duduvier, Guilherme Boulos, Eliane Catanhêde, entre outros, não poderiam publicar os textos que escrevem – os quatro links contém textos com caráter partidarista. Mas o fazem e ninguém se incomoda a ponto de vetá-los.

Portanto, talvez o problema não seja só o proselitismo – que faz referência ao partidarismo das publicações.

A censura direta por ideologia também não é o ponto chave da questão, pois entre os colunistas citados acima há esquerdistas declarados que conseguem mais audiência que Xico sem ser censurados.

A chave do desentendimento entre Folha e Xico Sá foi a intenção do jornalista de falar sobre o partidarismo dos jornais em uma coluna que pertence à Grande Imprensa.

Como os jornalões poderiam se declarar apartidários depois que um colunista da própria Folha afirmou que eles têm posições explícitas?

Essa declaração de apoio supostamente limitaria a credibilidade dos grandes jornais com seus leitores. Então a direção da Folha vetou o texto de Xico para continuar mascarando o partidarismo do jornal.

Ocultaram inclusive o motivo real do veto à coluna. Pois se dissessem que foi por causa da sugestão de declaração de apoio político, a Internet propagaria o motivo da demissão e o apartidarismo da Folha estaria condenado.

Seria interessante ver o texto vetado de Xico Sá para averiguar os pontos que possivelmente desagradaram a direção da Folha. Mas, com certeza, um deles foi a sugestão aos jornais de assumir “suas explícitas posições”.

Aliás, Xico Sá prestaria um serviço publico ao jornalismo colocando o texto na Internet, pois a sociedade necessita conhecer o verdadeiro lado da Grande Imprensa.

A declaração de apoio de um jornal é uma medida transparente e esclarecedora que faz bem à Democracia, por mostrar quais são as posições dos atores políticos que influem na formação de opinião da sociedade.

Evitar esse posicionamento cria ilusões em muitos leitores.

Nos comentários de notícias da Folha desfavoráveis ao PSDB, é possível ver muitas pessoas reclamando da postura “petista” do jornal, como se ele fizesse campanha para o PT.

A omissão do posicionamento político dos jornais cria essa triste confusão.

Como a Folha vai ser petista se grande parte de sua cobertura é dedicada a atacar as políticas sociais, internacionais e econômicas do Governo Federal?

Muitos leitores não percebem isso. Então chegam a conclusões próprias e limitadas que os conduzem ao erro.

Nenhum comentário da página no Facebook da Carta Capital, que declarou apoio à Dilma, diz que a revista é tucana, pois, além da linha editorial clara, a revista literalmente informa que apoia o PT e ainda explica por que.

É uma postura transparente que esclarece a sociedade. Por isso os jornais dos EUA e Europa declaram quem apoiam.

Entretanto, os grandes jornais do Brasil evitam essa medida, pois, segundo a cínica teoria do espelho, a declaração de apoio partidário no jornalismo atrapalha a credibilidade dos meios de comunicação.

A questão é: o que é mais importante numa sociedade democrática, leitores esclarecidos ou a credibilidade dos jornais? Se as coisas mais importantes de qualquer Democracia fazem referência à maioria, sem dúvida a primeira opção é prioridade!

A declaração de apoio pode condicionar a visão que os cidadãos têm dos jornais. Mas, se tem algo que realmente é “atrapalhado” com a máscara co apartidarismo, esse algo é o esclarecimento dos leitores.

Daí a importância de um jornal informar quem apoia. Ainda mais em época de eleição, quando a sociedade é induzida com mais facilidade a acreditar nas ideias veiculadas pelo marketing político.

Os jornais erram ao se declarar apartidários. Erram de forma egoísta e também conduzem os leitores ao erro.

O Estadão declarou – indiretamente – apoio a Aécio e continua tendo credibilidade. A Revista Fórum e praticamente todos os meios de comunicação progressistas também declararam voto e não perderam leitores por isso.

Com isso, esses órgãos de imprensa aumentaram o nível de conhecimento político dos cidadãos, o que favorece o amadurecimento da Democracia em si.

É hora dos jornais da Grande Imprensa esquecerem o medo de perder sua influência na sociedade para “saírem do armário”, assim como sugeriu o ex-colunista da Folha, Xico Sá.



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