Foco na Mídia

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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Reacionários atacam jornalistas por não entender a imprensa

Foto da manifestação. Segundo a PM cerca de 2,5 mil pessoas estiveram presentes.

Os repórteres Gustavo Uribe, da Folha de S. Paulo, e Ricardo Chapola, do Estadão, cobriram a manifestação do último sábado (01/10) contra a reeleição de Dilma Rousseff e hoje sofrem ameaças nas redes sociais pelos enfoques de suas matérias – clique aqui para ver a matéria da Folha, e aqui para ver a do Estadão.

A Abraji – Associação brasileira de jornalismo Investigativo - e o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo – SJSP - emitiram notas de repúdio às ameaças, segundo o diário Folha de S. Paulo.

Os repórteres tiveram seus perfis de redes sociais expostos em blogs e desde então são perseguidos nas redes sociais.

As duas publicações destacam os pedidos de intervenção militar de alguns manifestantes, o que, segundo participantes declararam em redes sociais, foi feito por uma minoria que não merecia atenção.

Ao destacar os pedidos de intervenção militar e da volta da Ditadura, os repórteres criminalizaram o protesto, na visão dos manifestantes presentes.

Segundo diversos comentários nas redes sociais, a Folha de S. Paulo e o Estadão são petistas ou comunistas e pretendem deslegitimar os pedidos feitos na manifestação do sábado.

Esse pensamento também apareceu em um post do blogueiro da revista Veja, Rodrigo Constantino, que falou sobre o comportamento da imprensa, acusando-a de possuir um “viés esquerdista”.

Análise:

A direita, que sempre condenou manifestações de esquerda, sentiu na pele o que os progressistas sofrem desde que começaram a fazer protestos.

A mídia só destaca manifestações progressistas que são massivas ou que acabam em confronto. Atos de esquerda que atraem 2 ou 3 mil pessoas  - número presente no ato de sábado - não costumam ganhar muita atenção da Grande Imprensa.

Acontece que o jornalismo tende a buscar o foco “sensacional” dos fatos com o objetivo de ampliar o interesse do leitor e, dessa forma, atrair mais audiência.

Portanto, a mídia destaca o inesperado, o surpreendente e o que chama a atenção do leitor.

Assim sendo, a atenção costuma estar direcionada a fatos negativos.

Nos atos de esquerda costumam ser os famosos “vândalos” que a direita sempre desqualifica; enquanto o destaque dos protestos reacionários são os pedidos de intervenção militar.

Em ambos os casos, o critério da mídia é o mesmo e o objetivo também.

Essa postura atrapalha a função de publicar as exigências manifestadas nos atos e ainda contribui com a criminalização dos movimentos sociais.

Ou seja, a busca por audiência limita a qualidade do relato, que adquire aspectos subjetivos, e passa a ideia de que as manifestações de esquerda são feitas por vândalos e pessoas desocupadas, enquanto as de direita contam com a presença exclusiva de “viúvas da Ditadura”.

Ora, a realidade é muito mais complexa que definições limitadas.

Privilegiando fatos sensacionais, a imprensa deixa de lado o foco principal da manifestação e destaca um ponto de vista que não necessariamente corresponde com as exigências gerais dos manifestantes.

É algo que acontece principalmente na televisão, mas que também ocorre na imprensa escrita, como nesse caso.

O foco principal da manifestação do sábado é o pedido de Impeachment e de recontagem dos votos.

Os pedidos de intervenção militar são reais, mas minoritários, como bem sabem os manifestantes reacionários. Mas por, serem fatos sensacionais, apareceram nos textos dos dois repórteres presentes no ato.

Por coincidência ou não, ambos entrevistaram a mesma pessoa: Sérgio Salgi, investigador da Política que carregava um cartaz escrito “SOS Forças Armadas”.

O cartaz diz explicitamente que esse manifestante deseja a volta da Ditadura. Como foi tratado nas duas matérias – de Folha e Estadão – é possível concluir que um dos objetivos da imprensa é somente destacar aquilo que chama a atenção.

Essa pessoa é tão impactante quanto um manifestante de esquerda ou anarquista que quebra patrimônio público durante uma manifestação, por isso ganha destaque.

A mídia dá atenção porque o fato impressiona inclusive os jornalistas.

Esses acontecimentos possuem significados intrínsecos e, na hora da comunicação midiática, caracterizam todo movimento.

É uma consequência direta do enfoque e do objetivo da mídia corporativa; algo corriqueiro.

Porém, como o público presente na Av. Paulista está acostumado a julgar, ao invés de ser julgado, acaba indignado com os critérios e objetivos da mídia que a mídia na seleção dos fatos.

A esquerda também se revolta, mas sabe que essa é uma postura normal da imprensa.

A direita não.

Ela quer vingança por achar que está sendo traída pelos “petralhas” e “comunistas” da mídia que, na verdade, por história e tradição, têm ideologia similar à deles.

É então que esses cidadãos atacam jornalistas, motivados pelo radical e apaixonado clima da campanha eleitoral.

Em seu orgulho ferido, esquecem, porém, que ao perseguir jornalistas, atentam justamente contra a liberdade de expressão que necessitam para saírem sair às ruas e para pedir o Impeachment de uma presidenta eleita democraticamente duas semanas atrás.

São detalhes da Democracia que os reacionários exigem para si, mas limitam para os demais

Uma característica do conservadorismo brasileiro, sempre arraigado no egocentrismo e na ideia de superioridade que ainda atrapalha e limita os direitos e liberdades civis de muitos coletivos sociais e cidadãos.

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