O repórter Guga Noblat, do
CQC teve sérios problemas para gravar uma matéria na manifestação pelo
Impeachment de Dilma no dia 15 - o vídeo abaixo mostra a matéria completa e este link leva ao vídeo gravado pelo manifestante que está ao lado do repórter na foto acima.
Os repórteres do CQC têm o
costume de provocar seus entrevistados, mas, nesse caso, Guga sentiu na própria
pele a falta de respeito e a intolerância com as opiniões do próximo.
Os manifestantes xingaram o
repórter, o empurraram, derrubaram seu microfone, provocaram, disseram que ele faz parte da imprensa "comprada" e complicaram ao
máximo o trabalho da equipe da Bandeirantes.
Tudo isso pode ser
represália pela cobertura que a Grande Imprensa realizou na última manifestação pelo
Impeachment de Dilma Rousseff, eleita há três semanas.
Naquela edição, jornalistas
da Folha e do Estadão fizeram coberturas que destacaram os pedidos de
intervenção militar. Foram chamados de chapa-branca e sofreram perseguições nas
redes sociais.
O curioso é que o Guga
Noblat, o repórter agredido, é filho de Ricardo Noblat, colunista do jornal O
Globo que insiste em atacar a imprensa alternativa, acusando-a precisamente de ser
chapa-branca – o termo deriva das chapas brancas dos carros oficiais e no
jornalismo faz referência a uma imprensa que defende o Governo e/ou seus órgãos
a qualquer custo.
Ou seja, o pai, colunista do
maior conglomerado de mídia da América Latina, induz sua audiência a acreditar que
parte da imprensa está comprada pelo PT, e o filho, que foi cobrir a
manifestação do sábado, foi atacado pelos manifestantes por pertencer justamente
a esse setor de imprensa que supostamente faz parte de um fantasioso regime
totalitário do proletariado.
É uma contradição digna da extrema-direita.
Pelo visto, os manifestantes
consideram que todos meios de comunicação são chapa-branca.
Pausa para risadas.
Quer dizer então que a
imprensa brasileira foi cooptada pelo PT? Claro, diriam os manifestantes; o
Brasil vive uma Ditadura comunista.
Calma. Outra pausa - agora
para lamentar o nível de conhecimento político de alguns e para pensar em
possíveis interpretações objetivas do acontecimento.
A acusação teria sentido se somente
for levada em conta a enorme quantidade de dinheiro público dirigida aos
grandes conglomerados de mídia – só a Globo, que emprega o pai do repórter do
CQC, embolsa mais de 400 milhões de reais por ano em publicidade oficial do
Governo Federal.
O Estado ainda é o principal
anunciante do país e isso pode ser suspeito para os manifestantes indignados da
Paulista.
Porém, se esse detalhe fosse
suficiente para comprar linhas editoriais e jornalistas, até a Editora Abril
seria petista, pois as revistas impressas da editora recebem rios de dinheiro
público há muito tempo.
Mas não.
A Grande Mídia brasileira no
geral tem liberdade para fazer a cobertura que deseja.
O problema é que a extrema-direita
exige uma cobertura digna de Rodrigo Constantino e Felipe Moura, blogueiros da
revista Veja.
E obviamente os veículos de
comunicação “imparciais” da Grande Mídia não compactuam com as fantasias que esses
jornalistas escrevem.
Preferem uma cobertura mais séria
e sutil ideologicamente, que ganhe a confiança da audiência por ser
supostamente neutra e desinteressada.
E quando a sociedade
acredita nesse apartidarismo que só existe na formalidade, os conglomerados de
imprensa estão prontos para usar enfoques tendenciosos e técnicas de
manipulação que induzem as pessoas a acreditarem em determinados pontos de
vista, sem sequer conhecer quais são as outras interpretações dos fatos
cotidianos.
E é nessas horas que a
Grande Imprensa contribui para a desinformação de cidadãos e, consequentemente,
com a intolerância política que promove a intolerância.
Acontece que a Grande
Imprensa está menos à direita que os manifestantes.
Os conglomerados de imprensa
são perfeitamente representados pelo PSDB. E, como sabemos, os manifestantes consideram
que até alguns políticos do principal partido de oposição são petistas, como
acusaram o ex-deputado federal Xico Graziano, quando ele se opôs aos pedidos de
intervenção militar na última edição da manifestação.
Os manifestantes de extrema-direita
ainda estão nos anos 60. Lutam contra comunistas e alguns pedem uma “Revolução”
para conter o avanço do PT, como se Dilma fosse tão revolucionária quanto
Marighella.
Porém, vivemos em uma
Democracia e até a extrema-direita tem direito de se pronunciar.
É necessário dar a essas
pessoas justamente o que elas recusam a oferecer: respeito, tolerância e
conhecimento.
Qualquer outra postura
incentiva o ódio e as agressões anti-Democráticas que aconteceram esse fim de
semana.
E isso é o último que nossa sociedade
despolitizada necessita nesse momento.